quinta-feira, 20 de maio de 2010


Ei amigos....
Este post abaixo foi retirado do blog do Juca kfouri.Fala sobre o campeonato (tri) brasileiro conquistado pelo São Paulo em 2008. É um interesssante comentário, que põe fogo na infindável polêmica entre pontos corridos versus mata-mata. O título do São Paulo é só um pano de fundo para uma discussão sobre um tema muito interessante: a meritocracia.Para não perder a "oportunidade filosófica" lembro que a meritocracia era defendida por Platão na sua obra "A Repúlica". Uma das metáforas da república platônica pode ser observada através do genial "mito da caverna"
Futuramente farei comentários sobre isso.


Do blog do Fernando Rodrigues
Extraído do blog do Juca Kfouri 08/12/2008


O futebol, o Brasil e a meritocracia

Há ainda um cheiro de pré-história sob vários aspectos quando se trata da organização do esporte mais popular do país. Mas também são inegáveis alguns avanços no futebol.

A conquista do campeonato brasileiro de 2008 pelo São Paulo Futebol Clube ajuda a disseminar no Brasil um valor quase inexistente no país: a meritocracia. Vence quem se esforça e trabalha mais ao longo de todo o campeonato.

Os torcedores de outros times ficam chateados, claro. Reclamam do gol irregular do SPFC no jogo de ontem (7.dez.08), contra o Goiás, na vitória por 1 a 0 (o atacante Borges estava impedido). Fala-se também que o SPFC não jogou um futebol dos sonhos ao longo da competição (é verdade).

Os mais atentos também deverão notar que os erros de arbitragem ocorreram para todos os lados no campeonato. Para citar apenas um, em 17 de agosto, o Grêmio ganhou do São Paulo por 1 a 0 com um gol de Perea também totalmente impedido.

Sobre jogar um futebol mais vistoso, cheio de lances "a la seleção de 82", a pergunta que fica é: qual equipe no futebol hipercompetitivo de hoje consegue atuar dessa forma? Resposta: nenhuma.

Tudo somado, a vitória do São Paulo representa a premiação, por mérito, à equipe que mais se preparou e se organizou para vencer. O SPFC gasta R$ 12 milhões por ano em um centro de treinamento fora da cidade de São Paulo, onde treinam cerca de 400 garotos. O técnico do SPFC, Muricy Ramalho, é um dos mais longevos no cargo no Brasil, mostrando que a regularidade administrativa é um valor necessário não apenas em governos e empresas, mas também no esporte.

Antes, o futebol era cheio de octogonais e quadrangulares decisivos. Havia rebolos, repescagens e chances de viradas de mesa. Equipes completamente desorganizadas, sem interesse pelos treinos diários, acabavam vencendo um ou dois jogos no final do ano e sagravam-se campeãs.

Nos últimos seis anos, equipes tradicionais tiveram de se submeter a uma passagem pela segunda divisão do futebol. Palmeiras, Grêmio e Corinthians são exemplos de superação. Devem ser aplaudidos. Desceram e subiram pelos seus próprios méritos. Mereceram cair. Mereceram subir. Assim deve ser em todos os setores da sociedade.
Alguns classificarão de sociologia antropológica de botequim, mas há uma mensagem relevante no futebol. No passado, com a bagunça de campeonatos com 40, 60 e até 100 times, chaves coloridas e vale-tudo no final, a mensagem era: não adianta trabalhar duro todos os dias; no Brasil, no final sempre dá-se um jeitinho de obter uma vitória "no talento" (sic).

A imensa maioria dos brasileiros ama o futebol. O sistema de disputa dos campeonatos nacionais exerce grande influência sobre uma massa enorme de pessoas. A bagunça reinante no passado deseducava os cidadãos por exalar um péssimo costume: "Trabalhar e se esforçar para quê? Quando chegar a hora 'h', a gente sempre dá um jeito".

Pelo atual modelo de pontos corridos (iniciado em 2003 e historicamente defendido pelo meu amigo e também blogueiro Juca Kfouri), é sempre enorme a chance de o campeão ser o que mais se prepara e o que tem a estrutura mais séria. Todo jogo é importante. Todo dia é dia de trabalho. Para ser campeão brasileiro de futebol agora é necessário jogar todas as partidas como se fossem a última (comento no final as últimas suspeitas de fraude nas arbitragens).

Milhões de brasileiros humildes têm no futebol uma de suas únicas alegrias. Agora, de maneira subliminar, esses mesmos brasileiros podem enxergar no esporte algo além do jogo. As disputas entre os 20 times da elite do futebol são também um exemplo de como o mais aplicado acaba, quase sempre, premiado ao final.

A possibilidade de cair para a segunda divisão e voltar pelo seu esforço próprio é também um incentivo a todos os brasileiros.

Acostumado a fazer a cobertura da política brasileira, recheada de casuísmos e fisiologia, é alentador ver o futebol dar um exemplo de continuidade e regras claras.
Tudo isso não é pouca coisa. A meritocracia é uma característica vital de sociedades desenvolvidas. É bom que no Brasil comece a vigorar exatamente na mais popular de todas as manifestações culturais, o futebol.

Uma ressalva e uma revelação:
1) nem sempre o melhor, mais preparado e mais esforçado pode vencer no campeonato de pontos corridos. É verdade. São exceções que confirmarão a regra. Mas nos seis campeonatos até agora realizados, ninguém tem dúvida sobre a justiça dos resultados (Cruzeiro, Santos, Corinthians e SPFC foram os melhores quando venceram).

Há também sempre o risco do "fator extra-campo": quando árbitros são subornados ou forçados a produzir determinados resultados. É o Brasil profundo. O campeonato de 2008 teve (como outros anteriores) suspeitas sérias de pressão criminosa nos bastidores. Ainda não há notícias suficientes para julgar o que se passou neste ano, mas será lamentável se acabar surgindo evidência de manipulação de resultados por parte das arbitragens/dirigentes. Perderá o futebol, mas perderá muito mais o Brasil.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Neymar nem terra

Este é o primeiro texto do blog. O título debutante é um trocadilho.Foi inspirado
no provérbio que diz “nem tanto ao mar nem tanto a terra”.No dia-a-dia o provérbio quer dizer algo do tipo assim: mantenha-se equilibrado, evite os extremos, vamos manter o bom senso, etc. Aliás, manter-se equilibrado é o sonho de consumo de dez entre dez pessoas. O equilíbrio ganhou status de super-herói, pois é o único que consegue rivalizar com o maior e mais mal explicado vilão moderno, o stress.

Dentro da literatura, existe uma visão do meio-termo, do equilíbrio, bem menos glamorosa. Esta visão se encontra no ótimo livro do literato alemão Hermann Hesse intitulado Der Steppenwolf (O lobo da estepe no Brasil). Hesse não poupa críticas ao se referir ao meio-termo como uma espécie de mediocridade humana, lugar comum do homem burguês (enquanto estado de espírito). Para o autor, o meio-termo é um lugar “confortável”, que evita todos os pares de opostos da vida humana e as conseqüências de uma escolha. Como exemplo, Hesse cita o burguês tranquilamente não se entregando nem a Deus, nem ao mundo, não aspirando ser santo nem libertino, apenas usando o que de melhor ambos tem a oferecer. Em suma, meio-termo confortável.

Futebolisticamente falando, a convocação ou não de Neymar para a seleção, parece ser uma luta travada entre o primeiro e o segundo parágrafo.

No primeiro parágrafo consigo enxergar o Dunga e seu discurso (por ele intitulado) coerente. Nosso técnico sempre afirma, com ironia, que o seu discurso e sua prática andam lado a lado. Aqueles jogadores que sempre serviram a seleção com espírito patriótico invejável (que ele diz ter resgatado) têm a sua preferência. Aqueles que estão com ele desde o começo, formam seu exército de combatentes. O nosso ex-capitão bélico usa a palavra ordem com uma freqüência espantosa. Para reafirmar esta “ordem”, usa como contraponto o que aconteceu em 2006, quando a badalada seleção (e seu quarteto mágico) sucumbiu à desordem, e entre cobrança de ingressos nos treinos, mulheres histéricas invadindo o campo, e meias abaixadas, a seleção novamente foi derrotada pela França. “Não me induzam aos erros do passado”, corrobora Dunga, toda vez que algum jornalista pergunta sobre este ou aquele selecionável.

Ponto para o equilíbrio. Todos os excessos estão cortados. “Olha o fantasma de 2006!” “Formamos um grupo de guerreiros!” (mesmo que for só na propaganda da cerveja).” São jogadores leais que preferiram a seleção em detrimento dos seus clubes”. “Quem está comigo está bem!”. Platonicamente falando, Dunga elegeu o ideal (seu grupo) e fechou os olhos para empírico (a mutabilidade do futebol). Meio-termo idealizante.

Porém a mutabilidade está aí, e Neymar não nos deixa enganar. Que culpa tem ele, de só ter “aparecido” para o futebol este ano?

“Droga!” deve pensar o Dunga, tudo estava tão certo com meu grupo de assíduos guerreiros!

O nosso técnico confia que se ganhar, poderá cuspir na cara dos jornalistas e rancorosamente poderá afirmar “Tá vendo eu não falei que estava certo”? “Eu formei um grupo” (Meu Deus, não dá pra esquecer que o Hulk foi um dos soldados dispensados), etc., etc.

Sou daqueles que penso que a mutabilidade das coisas é algo que não podemos deixar de enxergar. No futebol então...
A primeira visão do meio-termo, equilibrado, idealizado, parece não suportar o odor da realidade. Esse garoto Neymar é impressionante e sua convocação pode nos trazer momentos de deleites inesquecíveis. Não acho nem necessário recorrer ao argumento que afirma que o Brasil sempre se deu bem nas Copas quando levou algum garoto (Pelé em 58, Ronaldinho em 94, entre outros). Ora, se isso fosse verdade (idealizável?) bastaria toda véspera de Copa inventar algum craque (caso não existisse nenhum), incluirmos o garoto no grupo e pronto, já estamos de mãos dadas com o destino. Seríamos todos ricos, pois quadrienalmente ganharíamos fortunas nas casas de apostas. Penso que a tradição neste caso não resolve nada.

Para terminar, prefiro o meio-termo hesseano. Optar por extremos e assumir suas conseqüências é mais arriscado, porém mais digno. O Dunga também deveria pensar assim, e abrir uma fenda no seu idealizado grupo e incluir o Neymar.

Comecei o texto com um provérbio e termino com outro (este sem trocadilho). Para mim, futebolisticamente e, perdoem-me, hereticamente falando, “é Deus no céu e Neymar na terra”. Mas não em qualquer lugar da Terra. De preferência, quero vê-lo lá pelas bandas do berço da humanidade. Quando? Em meados de junho de 2010.

Adendos:
1) Caso Dunga convoque o Neymar constataremos que a mutabilidade venceu
2) Todos os argumentos são extensivos também, ao não menos genial, Paulo Henrique Ganso.